“Quando penso na minha história de vida, lembro-me de uma infância muito feliz, mas com muitas dificuldades financeiras” conta Rose. “Apesar disso, sempre fui uma criança trabalhadora, apaixonada por aprender e evoluir”. Ela se lembra de vender as xuxinhas que seu pai a presenteava quando tinha apenas nove anos de idade, porque preferia trabalhar do que ficar com os cabelos presos. “Minha família sempre foi muito humilde, meu pai nasceu em Pernambuco e minha mãe em Minas Gerais, sem influências educacionais, mas com muita vontade de crescer na vida”.
Rose conta que começou a trabalhar muito jovem, com apenas nove anos, e nunca mais parou. “Cheguei a desenvolver uma certa obsessão pelo trabalho, e muitas vezes me considero uma workaholic”. Aos dezesseis anos, começou a trabalhar vendendo consórcios na Chevrolete, e foi lá que conheceu Luciane, a autora dessa coluna, “somos amigas até hoje”. “Mesmo quando ela se mudou para os Estados Unidos, continuamos mantendo contato”.
Um dia, em meio a uma fase difícil da sua vida, Luciane a sugeriu ir para os Estados Unidos, onde teria mais oportunidades de crescer financeiramente. Rose tentou várias vezes tirar o visto, mas foi reprovada algumas vezes. Foi quando um primo a contou que entrou nos Estados Unidos pela fronteira do México, e ela decidiu embarcar nessa aventura.
A travessia ilegal da fronteira entre México e Estados Unidos se revela um caminho cheio de desafios e riscos para quem se aventura por esse caminho. Foi assim que Rose decidiu embarcar nessa experiência, contando com a ajuda de um “coiote”,-um guia que auxilia imigrantes ilegais. A viagem começou na Cidade do México, mas logo se viu pressionada a pagar propina em um aeroporto. Rose se viu isolada em um hotel deserto, apenas esperando pelo momento da travessia. “Tive muito medo” ela conta mas por fim chegou o tão esperado dia. Com uma mochila com poucos suprimentos e noites mal dormidas no deserto, ela se juntou a outros imigrantes de diversas nacionalidades em um carro rumo ao Texas. O destino final era a Pensilvânia, mas essa jornada revelou-se tanto extremamente arriscada em especial as mulheres que eram mais vulneráveis.
Após algum tempo nos Estados Unidos, conheceu Ty, seu ex-marido. Suas amigas o chamavam de Rambo pela sua aparência física com o personagem do filme. No começo, tudo parecia um conto de fadas, ele era gentil, carinhoso e romântico. No entanto, depois de casados, ele passou a controlar tudo o que Rose fazia, não a permitindo ter amigos ou falar com sua própria família no Brasil. “Ele me diminuía constantemente e me trancava em casa, paralisando minha vida”.
Rose trabalhava com ele em uma empresa de limpeza de construção, mas não tinha renda própria. Não podia fazer nada que não fosse aprovado por ele, havia um controle excessivo em tudo que ela fazia. Foi então que tudo começou a mudar e os abusos, o controle sem limites e o ciúmes excessivo passaram a fazer parte da sua rotina, mudando drasticamente a história da sua vida.
Em certa ocasião ela se lembra que tinha medo até de sair na rua, porém um dia ela sentiu muita vontade de comprar um par de óculos e decidiu ir sem avisar. Quando voltou a sua casa estava toda quebrada, seu passaporte rasgado e recebeu não só agressões físicas quanto psicológica e ameaças de deportação. Foi então que decidiu sair de casa e procurar ajuda.
Mas mesmo assim a perseguição e agressões ainda continuou até que um vizinho a ajudou e chamou a polícia que a encaminhou a uma terapeuta e a um abrigo de vítimas de mulheres de violência.
Assim como Rose, a história de abusos se repete com muitas mulheres que decidem se aventurar ao estrangeiro. E essa é uma história de sucesso pois apesar das dificuldades e do medo, Rose decidiu romper os grilhões de um relacionamento abusivo. No começo, ela confundiu controle e ciúmes com amor, mas aos poucos percebeu a verdadeira face da violência doméstica. Com determinação, ela encontrou a força para sair, mesmo com o perigo iminente. Encontrou amparo e apoio em abrigos de mulheres vítimas de violência, onde teve acesso a terapia e a orientações sobre seus direitos. Com coragem renovada, ela deu início ao processo para obter seu green card e construiu uma nova vida, livre do abuso.
“Hoje, sou mãe de duas meninas lindas e tenho um marido que me ama e respeita”. Além disso, Rose hoje é empresária em dois negócios de grande sucesso, tendo faturado mais de um milhão e meio de dólares em um deles. Seu terceiro negócio já desponta como grande expectativa. Através de muito esforço, perseverança, autoconhecimento e da ajuda divina, conseguiu superar todas as dificuldades da sua vida, recuperar sua liberdade e autoestima, e alcançar grandes conquistas. Sua história é um exemplo poderoso de superação e esperança, mostrando que é possível sair de um relacionamento tóxico e encontrar uma nova chance de felicidade.
@lucianevazusa